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FÓR
FÓRUMUM P PALESTRANTE XALESTRANTE 1

NOME DO PALESTRANTEADRIANO CAOBIANCO

Representante do coletivo Núcleo de Estudos em Gênero, Saúde e Sexualidade (NEGSS)


Eu falo em nome do NEGSS, que faz o papel de
militância auto-organizada LGBT dentro da Facul- AGNALDO DIAS
dade. Nossa intenção não é fazer uma retrospec-
tiva dos eventos que ocasionaram a abordagem de
Direitos Humanos dentro da Universidade – isso
já está disponível na internet, por meio de vários
vídeos e da divulgação no YouTube, de depoimen-
tos na Assembleia Legislativa, assim como outros
vídeos da CPI.
Minha primeira consideração é sobre o termo
“opressão”, que temos utilizado muitas vezes na
nossa militância, e tem sido ridicularizado, estig-
matizado e apropriado por grande parte dos alunos mente tem sido feita uma grande produção teórica
da Faculdade para nos satirizar. A despeito disso, de filósofos e cientistas políticos no sentido de proble-
continuamos insistindo em pautar as relações de matizar o uso do termo “tolerância” como resposta
opressão, e essa vai ser a primeira parte da minha a vários problemas, já que questões como o sexismo,
fala aqui. as desigualdades sociais, as injustiças diversas teriam
Primeiro, é bom pontuar que nossa militância sido substituídos pelo termo “intolerância”.
não é ingênua a ponto de acreditar que é possível De alguma forma, essa abordagem tira um
extinguir totalmente os preconceitos de todas as pouco os reais nomes dos problemas – isso tem sido
pessoas. Cabe uma ressalva para o uso do termo apontado, por exemplo, pelo filósofo Slavoj Zizek
“preconceito”, porque pessoas que não tivessem –, porque tolerância é uma forma de despolitizar
qualquer tipo de preconceito precisariam julgar de essa luta por direitos iguais. Ele também diz que
novo todos os eventos que se apresentassem diante Martin Luther King nunca mencionou a tolerância
de seus olhos. Essas pessoas precisariam viver em em seus discursos, porque compreendia que não se
um estado de alerta sobre-humano para as situa- tratava de os negros terem de tolerar mais os bran-
ções com as quais elas seriam confrontadas, para cos ou apenas terem de aprender a conviver com os
que não se tivesse preconceitos. Ninguém tem co- brancos. Tratava-se de garantir direitos que foram
nhecimento e inteligência suficiente para se despir negados historicamente durante séculos.
de todos os seus preconceitos nas relações sociais, Tolerância também pressupõe uma virtude do
por isso nós não abordamos o preconceito. que tolera, e o tolerado permanece nessa condição
Além disso, quanto ao termo “intolerância”, nós de inferioridade e, de alguma forma, dependente
também temos as nossas ressalvas, porque atual- dessa tolerância; ele pode ser tolerado com desprezo.


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