Page 11 - Universidade-preconceito
P. 11


Universidade





FÓRUMUM PALESTRANTE XALESTRANTE 1
FÓR
P
NOME DO PALESTRANTEADRIANO CAOBIANCO

Além disso, parafraseando novamente King, Assim como na abordagem de outras popu-
a paz não seria a ausência de tensão, o que é pre- lações vulneráveis, na abordagem da população
visto pela tolerância, mas sim a presença de Justiça. LGBT, nos cuidados com a demanda de saúde da
Uma vez que a luta por tolerância é essa luta por população, a partir do momento em que não se
talvez se conseguir ser tolerado, a luta por direitos menciona de forma sistemática e oficial esse tipo
garante conquistas inalienáveis. A tolerância pode de cuidado, se tem uma organização de um grande
ser retirada dependendo de quem tolera. silêncio sobre as demandas dessa população. E na
Reconhecemos que se tratam de relações de po- hora do cuidado com os pacientes isso será tra-
der, de produção de hierarquias entre as diferenças; duzido em momentos de desconforto, de humi-
então, são estruturas de poder institucionalizadas, lhação. Mas com certeza isso não é o que os es-
e essas estruturas de poder estabelecem hierarquias tudantes da Faculdade almejam para o seu futuro
entre as diferenças, elas produzem desigualdades. profissional. Daí a necessidade de um empenho de
Com isso, explicamos como algumas vozes de alu- mudança oficial estrutural, e não apenas de inicia-
nos na Faculdade têm sido ostracizadas depois das tivas de boa vontade muito bem intencionadas de
denúncias de violação de Direitos Humanos, en- docentes, de receptores.
quanto outras vozes em defesa da Instituição têm Pegando como exemplo estatutos, regimen-
sido muito requeridas nos espaços. tos da Universidade que não são atualizados, que
E justamente em função dessa exposição da não têm especificações quanto a punições, quanto
violação de Direitos Humanos e da exposição das às menções de violação dos Direitos Humanos de
práticas de veteranismo que as pessoas se sentem, modo mais incisivo e menos vago, menos ambíguo,
em suas instituições, de alguma forma, desmantela- e acabam gerando grandes silêncios – isso prejudica
das, a partir do momento em que são questionadas ainda mais a vida das vítimas, que não têm esse am-
– obviamente que teremos uma reação hostil sobre paro. A partir do momento em que se organiza esse
nós. Nós, do Coletivo, seremos chamados, então, de grande silêncio sobre demandas de uma população
intolerantes, de violentos, porque quando se ques- que historicamente é marginalizada e vulnerável,
tiona algum tipo de privilégio na continuidade de al- estabelece-se como norma uma saúde para as pes-
guma prática dentro do ambiente universitário isso soas heterossexuais, para as pessoas cisgêneras.
não será visto de uma forma tão tranquila, já que Então, essa é a norma de saúde nas Faculdades de
são práticas que muitas vezes se tornaram tradição Medicina, e qualquer pessoa que não se encaixe
dentro da Faculdade. nessa norma vai encontrar dificuldades no sistema
Além disso, cabe a nós do NEGSS falar um pouco de saúde, não porque todos os médicos sejam in-
sobre o nosso currículo. Pegando emprestadas as pa- tolerantes, opressores, mas no sentido de que eles
lavras de Foucault, a produção dos discursos também muitas vezes não foram expostos a essas realidades,
organiza silêncios, e a produção de saber também faz então eles não sabem lidar, não estão preparados
circular desconhecimentos e erros sistemáticos. para atender às demandas dessas populações.


11
   6   7   8   9   10   11   12   13   14   15   16