Page 11 - Universidade-mulher
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FÓRUMUM P PALESTRANTE xALESTRANTE 2
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Prof D a
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nome Do PaLeStranter ana fLávia De oLiveira
tão difícil entender porque esse é um problema do beijo roubado, de não entender um “não”, por-
que também nos afeta dentro da universidade, e a que isso está mudando, e se nós não mudarmos,
minha fala é um convite a pensarmos nessas duas vamos ficar para trás na história.
perspectivas: nós como profissionais de saúde, que
teremos de cuidar de um problema que é invisibi- vioLêNCiA SExUAL NA UNivERSidAdE
lizado, mas que está na base de uma gama enorme
dos problemas de saúde com os quais lidamos to- Em torno de 15 a 25% das alunas sofrem
dos os dias, e nós como professores, funcionários alguma forma de agressão sexual durante
e estudantes da comunidade universitária, que es- sua vida acadêmica em pesquisas nos EUA e
tamos dentro dessa sociedade, compartilhamos a Canadá.
cultura, e, infelizmente, compartilhamos também
os aspectos negativos dessa cultura, sobre os quais vítimas: 93% MULHERES
a gente deve refletir. Agressores: 97% HoMENS
Não é à toa que no Canadá, nos Estados Uni-
dos, na Inglaterra e em diversos países europeus Por que a violência é tão comum e a gente não
a questão da violência sexual contra as alunas das sabe? Os números que estou mostrando para vocês
universidades e dos colleges é hoje uma grande não são tão “senso comum”. Quando eu fui estu-
preocupação dos docentes e das estruturas univer- dar isso e vi que de 15% a 25% das alunas sofreram
sitárias; e é de gênero porque especificamente a vio- alguma forma de agressão sexual na sua vida acadê-
lência sexual tem esse caráter fortemente marcado mica, ou seja, durante a universidade, eu fiquei im-
de uma agressão masculina contra um corpo femi- pressionada. Quando comecei a ouvir os primeiros
nino. Mesmo quando a violência sexual é cometida casos e participei do grupo de violência sexual da
de um homem contra outro homem, ele tende a comissão aqui da escola contra a violência e contra
uma feminilização da vítima da violência, porque a discriminação, eu fiquei chocada.
gênero tem uma base material, mas também sim- Por que a gente não vê o que está ao nosso redor
bólica. Nós temos que pensar no que o gênero sig- e o que aconteceu conosco mesmo? Em primeiro
nifica, quais os sentidos que ele traz para nós. lugar, porque a gente banaliza – é tão comum que
Esses são dados canadenses e americanos, e a gente já acha que é normal, então não se deve
veja que eles consideram a agressão sexual de uma fazer nenhum caso disso. Mas as consequências são
forma relativamente ampla (Quadro 2). Aqui eu muito graves e muito importantes. Em segundo lu-
não estou falando apenas de estupro com penetra- gar, porque a gente acha que é natural, quase acre-
ção, mas de toda a forma de agressão sexual não dita que não é gênero, é sexo, o corpo dos homens
permitida e não consentida. Acho que para fazer- é mais ativo sexualmente, enquanto alguma coisa
mos uma mudança cultural nós temos de perceber na nossa natureza explicaria uma passividade. Isso é
a importância do assédio, do toque não consentido, evidentemente falso, mas sustenta a nossa impres-


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