Page 2 - Universidade-mulher
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Universidade





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FÓRUMUM PALESTRANTE XBERTURA
FÓR


neste momento, grandes dificuldades no plano das silêncio. Mas a violência tem que ser falada”, afir-
convivências. A convivência universitária, em espe- mou a médica.
cial, tem levantado muitas questões acerca da ca- Ela acredita que não haverá a erradicação do
pacidade que têm os adultos jovens de manter boa que considera “a doença chamada violência” sem
situação de relacionamentos interpessoais, relacio- um envolvimento inter-setorial, que inclui educa-
namentos com os professores, relacionamentos e ção, políticas públicas, segurança civil, transporte,
com a comunidade acadêmica”, afirmou. saneamento básico, em todos os níveis – municipal,
Em seguida, apresentou-se a Profa. Dra. Isa- estadual, federal – e também nos microcosmos,
bel Cristina Espósito Sorpreso, do Departamento como a USP. “Como mulher, eu diria que a vio-
de Ginecologia e Obstetrícia da FMUSP. “Como lência é inaceitável. Mas, como docente, eu posso
mulher, médica ginecologista e como membro deixar algumas sugestões. Acredito que tutorias e
do corpo docente da área de Atenção Primária à grupos de conversa como os que já existem, por
Saúde, posso dizer que a violência contra a mulher sensibilização de vários docentes, já são um co-
é velada em diferentes diagnósticos de saúde, que meço. Mas, se não houver prioridade de gestão,
muitas vezes passam desapercebidos. Ela é velada não haverá melhoria no quadro geral.”
na dor pélvica crônica, está atrás do vaginismo, O diretor da FMUSP, Prof. Dr. José Otávio
da doença sexualmente transmissível, da moléstia Costa Auler Júnior, se apresentou em seguida, lem-
inflamatória pélvica de repetição”, afirmou. Se- brando que a Faculdade passou por movimentos di-
gundo ela, muitas mulheres retornam várias vezes fíceis, que fizeram com que todos refletissem sobre
ao pronto-atendimento do hospital universitário a necessidade de disseminar ideias e debater sobre
por moléstia inflamatória pélvica, o que também essa questão, que é cultural e está arraigada na so-
pode esconder a violência. ciedade em todos os seus níveis. “Mas cabe a uma
“A violência ainda é velada nos números de escola médica, que tem por princípio a compaixão
mortalidade materna, nos nossos números de ges- pelo ser humano, a defesa do que há de mais sa-
tação não planejada, dos 10 aos 14 anos. Como grado na pessoa, que é a sua saúde, cuidar da saúde
é possível dizer que uma menina de 10 a 14 anos do seu semelhante”, afirmou.
teve uma gestação não planejada se, por lei, isso é “Por isso, os estudantes estão aqui vocaciona-
um estupro? A violência é velada nos vários diag- dos para esse princípio, para essa meta em suas car-
nósticos de saúde ao longo da vida dessa mulher, reiras, e isso tem de permear o curso desde o prin-
desde a infância até a pós-menopausa. E, às vezes, cípio. Esse debate vai fazer parte do novo currículo;
ela só se revela quando perguntamos. Fui ensinada essas disciplinas têm que fazer parte do conteúdo, e
a perguntar: ‘A senhora, em algum momento de eu agradeço muito todos os docentes que se sensi-
sua vida, já passou por uma situação de violência, bilizaram e estão disponibilizando seu tempo para
seja ela psicológica, física ou sexual?’. Alguns alu- que isso seja construído ao longo do tempo. Não
nos não são. E, às vezes, a gente se depara com o é uma tarefa fácil, é um trabalho de sensibilização



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